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| Foto Ricardo Duarte/Internacional |
Para o torcedor que avalia a temporada de 2025 apenas pelos números, o veredito sobre Rafael Borré parece simples e desanimador. Contratação de peso e um dos principais nomes do elenco, o centroavante colombiano terminou o ano sem balançar as redes nos seus 11 últimos compromissos, uma seca que representou 693 minutos em campo. A narrativa comum é a de um investimento alto que não correspondeu, especialmente na dramática luta do Internacional contra o rebaixamento.
No entanto, por trás da frieza das estatÃsticas, emerge uma história de bastidores que revela um paradoxo. Enquanto em campo o camisa 19 parecia distante de sua melhor versão, fora dele, suas atitudes pintavam o retrato de um atleta com um comprometimento raro e motivações surpreendentemente complexas. Este artigo vai além dos gols perdidos para revelar os fatores cruciais que moldam seu futuro no Beira-Rio, elementos que transformam uma decisão aparentemente óbvia em um complexo quebra-cabeça para a diretoria colorada.
Em um momento de máxima incerteza, quando a permanência na Série A era uma questão em aberto, uma reunião entre Borré e o presidente Alessandro Barcellos, antes da partida contra o São Paulo, revelou o caráter do jogador. O que o colombiano colocou na mesa pegou o mandatário de surpresa. Borré manifestou o desejo de ficar, independentemente da divisão, e ao ser informado sobre a impossibilidade financeira do clube de arcar com seus vencimentos em caso de queda, a resposta foi imediata: ele se prontificou a ter o salário reduzido e assinar um novo contrato para ajudar o clube na retomada.
Mesmo após o alÃvio da permanência, o atacante reforçou a disposição de renegociar para auxiliar na remontagem do elenco para 2026. Em um futebol onde contratos milionários são barreiras, a atitude de Borré é mais que um gesto; é uma tentativa de reconstruir a confiança com uma torcida frustrada com os resultados, mostrando que seu compromisso vai além das cláusulas contratuais.
A vontade de permanecer não é movida apenas por lealdade, mas também por um cálculo frio e estratégico. Borré enxerga a continuidade no Beira-Rio como o "caminho mais fácil" para garantir sua vaga na seleção colombiana para a próxima Copa do Mundo. A lógica é clara: uma mudança para mercados como Estados Unidos, México ou o segundo escalão europeu no meio da temporada significaria um arriscado perÃodo de adaptação.
Enfrentar um novo sistema de jogo, uma nova lÃngua e a briga por uma vaga de titular poderia colocar em risco o ritmo e a visibilidade necessários para se manter no radar do técnico da seleção. Ao valorizar a estabilidade em Porto Alegre, Borré demonstra um pensamento de longo prazo, priorizando o maior objetivo da carreira de um jogador em detrimento de uma mudança abrupta e potencialmente prejudicial.
Nos bastidores do Inter, o consenso é que, apesar da performance em campo, nunca faltou "empenho e comprometimento" ao jogador. Consciente de suas dificuldades, Borré sabia que estava em débito com o clube. Essa admissão silenciosa se traduziu em ação: longe dos olhos da torcida, ele investiu pesado do próprio bolso em uma estrutura de elite para recuperar sua melhor forma.
O atacante montou uma equipe multidisciplinar que inclui dois psicólogos esportivos e um treinador particular que trabalhou com Mohamed Salah em seu perÃodo na Roma. Esse investimento financeiro pessoal é a prova mais contundente de sua responsabilidade sobre a própria performance. É um ato de quem não terceiriza a culpa pela má fase, mas assume o controle e busca ativamente a solução, um esforço invisÃvel que revela muito sobre sua mentalidade profissional.
Além da estratégia de carreira e do compromisso financeiro, um fator poderoso e muitas vezes subestimado pesa na balança: o bem-estar familiar. Borré desenvolveu um genuÃno carinho pelo clube e pela vida em Porto Alegre. Mais importante, sua famÃlia está completamente adaptada à capital gaúcha, uma estabilidade que remete à experiência positiva vivida em Buenos Aires, quando se tornou Ãdolo no River Plate.
Para um atleta profissional, cuja carreira é marcada por mudanças e incertezas, encontrar um lugar onde a famÃlia se sente em casa é um pilar fundamental. Essa felicidade pessoal transcende o campo e se torna um fator decisivo, transformando a permanência em algo muito mais profundo do que uma simples escolha profissional.
A história de Rafael Borré em 2025 é um lembrete de que um jogador não é apenas a sua estatÃstica. A discussão sobre seu futuro é uma trama complexa, tecida com fios de lealdade financeira, ambição de Copa do Mundo, um investimento invisÃvel em sua própria performance e um profundo bem-estar familiar. Enquanto os números sugerem o fim de um ciclo, as ações de bastidores revelam um desejo de redenção.
O que torna a decisão da diretoria ainda mais intrigante é um fato crucial do mercado: não há ofertas por Borré no momento. O Inter não está sendo pressionado a vendê-lo. A escolha é puramente interna, um dilema entre a análise fria do desempenho recente e a aposta no caráter demonstrado pelo homem. Com o mercado em silêncio e um atleta disposto a sacrificar o salário, a verdadeira questão para a diretoria colorada não é se pode arcar com Borré, mas se pode se dar ao luxo de abrir mão de tudo o que ele representa fora de campo.
Fonte GE Inter
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O CONTEÚDO NO TEXTO ACIMA REFLETE O PENSAMENTO DO ESCRITOR E NÃO DO BARCOLORADO!
