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| Foto reprodução youtube/Internacional |
A temporada de 2025 começou com o Inter cumprindo à risca o roteiro do sucesso: título gaúcho no bolso e classificação tranquila na Libertadores. Mas o que se seguiu foi um colapso que levou o clube do céu ao inferno, culminando em uma luta desesperada contra o rebaixamento na última rodada do Brasileirão. Em meio a esse turbilhão, a tradicional entrevista de fim de ano do presidente Alessandro Barcellos exclusiva ao jornal Zero Hora, emergiu não como um balanço protocolar, mas como uma fonte de revelações surpreendentemente honestas sobre a real situação do clube e sua direção para 2026.
Longe de promessas vazias, as palavras de Barcellos ofereceram um choque de realidade. A entrevista expôs os desafios financeiros, admitiu erros cruciais de planejamento e detalhou a lógica por trás da completa reestruturação do departamento de futebol.
Contrariando a expectativa da torcida por investimentos pesados após uma temporada decepcionante, o presidente Alessandro Barcellos estabeleceu um tom de total responsabilidade fiscal. A mensagem foi inequívoca: o clube precisa colocar as contas em ordem antes de sonhar com contratações de alto impacto.
A venda do zagueiro Vitão para o Flamengo, um concorrente direto, foi o exemplo mais contundente dessa nova realidade. A decisão, embora dolorosa, priorizou a saúde financeira de longo prazo, com um detalhe revelador: parte do dinheiro foi usada para quitar uma dívida pela compra de Thiago Maia. Barcellos deixou claro que uma parcela significativa da receita gerada pela venda de jogadores será destinada ao pagamento de débitos e à manutenção do clube, não apenas ao financiamento de novos atletas.
A sinceridade sobre o planejamento orçamentário foi encapsulada na seguinte declaração:
"A gente tem um orçamento para o ano que vem, um orçamento que não vai ter investimentos vultuosos dentro da realidade do clube."
A análise aqui vai além da gestão de expectativas. A transparência de Barcellos expõe uma realidade do futebol brasileiro: um mercado hipercompetitivo e inflacionado que força até os gigantes a tomarem decisões pragmáticas, incluindo a venda de ativos para rivais diretos, como forma de sobreviver e sanear as finanças.
Em seu último ano de mandato, Alessandro Barcellos sinalizou uma mudança de mentalidade. Em vez de uma aposta arriscada de "tudo ou nada" em busca de um título que pudesse maquiar problemas estruturais, o foco será em garantir a saúde do clube a longo prazo. O ano de 2026 foi oficialmente definido como um "ano de transição".
O objetivo, segundo o presidente, é entregar um clube mais saudável para as gestões futuras. Isso significa criar um ambiente positivo e um plano sustentável, evitando o aumento do endividamento em troca de uma glória efêmera. Trata-se de uma abordagem contraintuitiva para um presidente em seu último ano, sugerindo um foco em legado e estabilidade institucional, em vez de ganhos políticos imediatos.
Barcellos expressou seu compromisso em evitar erros do passado e reconstruir a relação com a torcida:
"Tenho certeza que 2026 vai ser um ano bem melhor, que a gente vai conseguir retomar essa relação de confiança."
Uma das revelações mais impactantes da entrevista foi a admissão de um erro estratégico crucial na janela de transferências do meio do ano. O presidente reconheceu abertamente que a direção fez uma aposta equivocada ao acreditar que o elenco existente seria suficiente para manter a competitividade no segundo semestre.
Essa falha de cálculo levou a uma decisão de não realizar grandes investimentos, focando, em vez disso, na redução de custos. A consequência foi uma queda vertiginosa de rendimento que quase culminou no rebaixamento. Barcellos assumiu a responsabilidade com uma autocrítica detalhada e rara no futebol: a avaliação era de que o time precisava apenas de "composição de elenco e não focada em jogadores que pudessem estar chegando como titulares indiscutíveis". Ele foi categórico: "erramos nessa avaliação".
Este reconhecimento público do erro é um passo fundamental para explicar as dificuldades enfrentadas pela equipe e justificar a necessidade da reestruturação em curso. Para a torcida, essa mea culpa é essencial no processo de reconstrução da confiança na gestão.
A reformulação do departamento de futebol não foi apenas uma troca de nomes, mas a implementação de uma nova filosofia de gestão. Barcellos explicou a lógica por trás da chegada de Fabinho, Abel Braga e Paulo Pezzolano, destacando a "sinergia" e a "complementaridade" de perfis que a diretoria buscou.
Cada profissional terá um papel específico para corrigir as falhas que marcaram o fim do ciclo de 2025:
Fabinho (Diretor Executivo): Traz conhecimento de mercado e criatividade em negociações, habilidades cruciais em um momento de restrições financeiras.
Abel Braga (Diretor Técnico): Oferece sua imensa experiência, compreende as "nuances do vestiário" e tem a função de blindar o treinador de questões extracampo, permitindo que ele se concentre no trabalho tático.
Paulo Pezzolano (Técnico): É o responsável pelo trabalho de campo, trazendo conceitos modernos de futebol, com treinos de alta intensidade e objetividade.
Essa estrutura representa um movimento em direção a uma gestão mais profissional e segmentada, onde as responsabilidades são claramente divididas para otimizar os processos e buscar resultados mais consistentes.
Diante das críticas ao desempenho das categorias de base, o presidente apresentou uma nova perspectiva sobre seu papel. Ele revelou que, do ponto de vista financeiro, a base foi um sucesso em 2025, superando as metas de vendas com a negociação de jovens como Gabriel Carvalho, Ricardo Mathias e Luis Otávio. Essa performance foi vital, considerando que o clube vinha de um prejuízo de mais de R$ 90 milhões em 2024, causado pelas enchentes.
Barcellos também justificou o desempenho esportivo abaixo do esperado do time sub-20, explicando que os principais talentos foram amplamente utilizados no time profissional – ao todo, 16 atletas formados no clube foram relacionados para jogos da equipe principal. Isso, segundo ele, é parte da política de formação, mesmo que impacte os resultados nas competições de base.
A visão do clube sobre a necessidade de gerar novas receitas foi sintetizada em uma afirmação crucial:
"As receitas comerciais do clube cresceram bastante nesse último período. Só aumentar a receita é insuficiente."
Essa análise é poderosa. Mesmo com um crescimento projetado de 46% na receita comercial em 2025, o endividamento estrutural é tão significativo que a base precisa funcionar como um pilar financeiro constante para gerar "dinheiro novo" e garantir a sustentabilidade do clube. A formação de atletas, portanto, não é apenas um projeto esportivo, mas uma peça central do modelo de negócio do Internacional.
A entrevista de Alessandro Barcellos ofereceu ao torcedor colorado uma dose de pragmatismo. O tema central foi a mudança de rota: após um ano traumático, o clube se volta para o realismo financeiro, o planejamento de longo prazo e a reconstrução de suas estruturas. A era das apostas arriscadas parece ter dado lugar a um projeto de estabilidade.
Ainda que essa abordagem possa frustrar os torcedores ansiosos por soluções imediatas e contratações de peso, ela sinaliza uma tentativa honesta de construir um futuro mais sólido. Barcellos está pedindo à sua torcida o bem mais raro no futebol: paciência. Ele aposta que a honestidade brutal de hoje comprará a glória sustentável de amanhã. Será que este doloroso, porém honesto, plano de transição é o caminho para que o Inter volte a ser protagonista de forma sustentável no futuro?
Fonte GE Inter
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O CONTEÚDO NO TEXTO ACIMA REFLETE O PENSAMENTO DO ESCRITOR E NÃO DO BARCOLORADO!
