Direção garante respaldar o trabalho de Ramón e Emiliano Díaz

 

Fotos Ricardo Duarte/Internacional


Todo torcedor conhece o roteiro. Os maus resultados se acumulam, a paciência da arquibancada se esgota e a pressão sobre o técnico atinge o ponto de ebulição. Para o colorado, esse filme ganhou contornos dramáticos no último sábado: após quatro longos jogos sem sequer balançar as redes, o time abre 2 a 0 contra o Bahia, mas cede o empate em casa, intensificando a crise no Beira-Rio e gerando protestos no pátio do estádio.
No entanto, apesar de todos os ingredientes clássicos que compõem a receita para a demissão de um treinador, a realidade nos bastidores do Internacional é surpreendentemente diferente. A situação de Ramón Díaz, longe de ser um caso encerrado, revela uma dinâmica complexa entre direção, desempenho e vestiário. Vamos analisar três fatos que fogem do roteiro esperado para uma crise como esta.
1. Apesar do caos, a direção garante: "Não vamos fazer nenhuma modificação"
Este é o ponto mais contraintuitivo de toda a situação. Enquanto a pressão externa atinge níveis máximos, com o time na 15ª posição, perigosamente perto da zona de rebaixamento e amargando uma sequência de cinco jogos sem vencer, a direção do Inter, em uma aposta de alto risco, opta por projetar uma imagem de estabilidade. O vice-presidente de futebol, José Olavo Bisol, foi a público para bancar a permanência da comissão técnica.
A declaração do dirigente foi enfática e buscou encerrar qualquer especulação sobre uma troca no comando:
Nós acreditamos na comissão técnica. Entendemos que vem fazendo um trabalho de evolução e hoje (sábado) isso foi demonstrado em campo. Não temos a pretensão de fazer qualquer tipo de modificação neste momento.
Bisol complementou a justificativa apelando para critérios subjetivos, afirmando ver "ímpeto, capacidade de melhoria e de jogar". Em um ambiente tão volátil quanto o futebol brasileiro, um voto de confiança tão explícito é incomum, mas ganha contexto com um detalhe importante: o dirigente pediu tranquilidade para o trabalho durante a iminente pausa da data Fifa, sinalizando que a aposta na comissão técnica tem, ao menos por agora, um prazo para mostrar resultados.
2. Os números não mentem: O desempenho é pior que o do técnico anterior
Enquanto a direção fala em "evolução" e "ímpeto", os números apresentam uma realidade fria e irrefutável. O desempenho de Ramón Díaz à frente do Inter, após dez partidas, está longe de inspirar confiança. A matemática do trabalho do argentino é clara:
• 2 vitórias, 4 empates, 4 derrotas
• Aproveitamento de 33,3%
• Apenas 10 dos 30 pontos disputados foram conquistados
Para colocar esses dados em perspectiva, o aproveitamento de Díaz é inferior ao de seu antecessor, Roger Machado, que deixou o clube com 39,13% no Campeonato Brasileiro. Essa dissonância entre o discurso otimista da diretoria e a dura realidade estatística, que mostra uma regressão em relação ao trabalho anterior, cria um cenário de incerteza sobre quais critérios estão de fato sendo utilizados para avaliar o comando da equipe.
3. E os jogadores? A neutralidade calculada do vestiário
Com a diretoria defendendo um "trabalho de evolução" que os números desmentem, o elenco se encontra em uma posição delicada, optando por uma neutralidade que fala por si só. A postura pública dos jogadores não é de crítica aberta, mas tampouco de defesa efusiva da comissão técnica. A resposta do goleiro Ivan, quando questionado sobre o trabalho de Ramón Díaz, é um exemplo perfeito dessa diplomacia calculada.
Ao ser perguntado se cabia aos atletas avaliar o trabalho, Ivan colocou a responsabilidade inteiramente nos ombros da diretoria:
Para avaliar acho que cabe à direção, não aos atletas. Tentamos fazer o que eles nos passam, às vezes jogamos com uma formação ou com outra, tentamos ajudá-los a ter mais segurança no que nos passam. Não cabe a mim, não cabe aos atletas, e sim à direção para avaliar.
Esta não é a fala de um elenco fechado com o treinador. É o som do vestiário transferindo toda a responsabilidade — e o ônus de uma eventual queda — para a sala da diretoria. Os jogadores se posicionam como executores de ordens, deixando claro que a avaliação sobre a eficácia dessas ordens pertence exclusivamente à gestão do clube.
A situação no Internacional é uma aposta de alto risco da sua diretoria. De um lado, há a pressão da torcida, uma posição preocupante na tabela e um aproveitamento estatístico que justificaria uma mudança imediata. Do outro, uma gestão que publicamente respalda o trabalho, alegando ver uma evolução que os números não confirmam. No meio, um elenco que se mantém neutro, aguardando a definição dos rumos. A questão que fica no ar para o torcedor colorado é: será essa a aposta em um projeto de longo prazo ou uma teimosia que pode custar caro ao Inter no final do campeonato?

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