30 milhões:Condenação do Internacional

 



No xadrez multibilionário do futebol, um movimento em falso na sala da diretoria pode ser mais caro do que uma contratação fracassada em campo. Uma cláusula ignorada, uma aposta jurídica arriscada ou uma obrigação protelada podem se transformar em passivos que assombram orçamentos por anos. É exatamente este o roteiro do mais recente revés financeiro do Internacional.

A condenação do clube a pagar R$ 28,6 milhões ao empresário Jair Peixoto, decorrente da venda do zagueiro Bruno Fuchs ao CSKA em 2020, é muito mais do que uma briga judicial. É um post-mortem de uma série de decisões administrativas equivocadas, oferecendo lições contundentes sobre os perigos da má gestão contratual no esporte de alto rendimento.

O ponto mais alarmante do caso é a brutal escalada da dívida. O que era uma comissão de R 10,2 milhões em 2020 metamorfoseou-se em uma obrigação judicial de R 28,6 milhões. A decisão da diretoria da época de contestar o contrato, oferecendo apenas 10% — metade dos 20% previstos — revelou-se um erro de cálculo monumental. Foi uma aposta jurídica de alto risco que custou ao clube R$ 18,4 milhões a mais do que a obrigação original, um valor composto por juros, correção monetária e custas processuais.

Os números contam a história de um prejuízo autoimposto:

  • A Venda: Em agosto de 2020, Bruno Fuchs foi negociado com o CSKA por 8 milhões de dólares (R$ 51 milhões na cotação da época).
  • A Comissão Original: O contrato garantia ao agente 20% do valor, totalizando R$ 10,2 milhões.
  • A Dívida Atual: O valor da condenação chega a R$ 28,6 milhões.

O tempo foi um fator crucial. Embora a decisão judicial condenatória tenha ocorrido em 2022, ela só se tornou pública recentemente. Durante esse período, o relógio financeiro correu impiedosamente contra o clube, transformando uma disputa evitável em um rombo significativo.

A aposta do Internacional em desconsiderar a cláusula de exclusividade foi o gatilho para a explosão da dívida. O argumento central do clube no processo foi de que, por não ter utilizado os serviços da empresa do agente, a Showball, para concretizar a venda, a comissão não era devida. Essa lógica, contudo, ignorou o pilar do acordo: a exclusividade.

A Justiça determinou que Jair Peixoto tinha o direito contratual de representar o clube em qualquer negociação envolvendo o jogador. Ao conduzir a venda por outros meios, o Internacional não apenas contornou o agente, mas violou diretamente um termo contratual soberano. A decisão judicial foi clara: a quebra da exclusividade, por si só, gerou o direito à comissão integral, independentemente da participação do agente na transação final. Foi uma demonstração inequívoca de que, no mundo dos negócios, um contrato assinado não é uma sugestão, mas uma lei entre as partes.

Decisões administrativas deixam legados duradouros. A venda de Bruno Fuchs e a subsequente disputa judicial ocorreram em agosto de 2020, sob a presidência de Marcelo Medeiros, cujo vice de futebol era Alessandro Barcellos. O fato de Barcellos ser o atual presidente do clube estabelece uma linha de continuidade direta entre a gestão que originou o problema e a que hoje arca com suas graves consequências financeiras.

Este caso ilustra perfeitamente como escolhas feitas por uma diretoria podem se tornar um fardo pesado para seus sucessores ou, neste caso, para a mesma figura em um novo cargo, comprometendo orçamentos e limitando a capacidade de investimento do clube anos mais tarde.

Em uma manobra recente para viabilizar seu recurso no processo, o Internacional ofereceu seu valioso Centro de Treinamento Parque Gigante como garantia. O clube avalia o ativo em cerca de R$ 100 milhões, mais de três vezes o valor da dívida. Contudo, a Justiça negou a oferta, ensinando uma lição fundamental de finanças: valor patrimonial não é sinônimo de liquidez.

A decisão judicial destacou que "não havia certeza da liquidez do CT colorado". Em suma, para a Justiça, o clube precisava oferecer dinheiro ou algo que pudesse virar dinheiro rapidamente, como uma fiança bancária. Oferecer um CT, por mais valioso que seja, é como tentar pagar uma conta de supermercado com a escritura de uma casa: o valor está lá, mas não da forma que o credor pode usar imediatamente. Para seguir na batalha judicial, o clube precisa apresentar uma garantia que o juízo possa executar sem demora.

O caso Bruno Fuchs serve como um poderoso e caro lembrete sobre a importância do rigor contratual e da gestão de risco no futebol moderno. Uma comissão não paga, uma cláusula de exclusividade quebrada e uma batalha judicial perdida transformaram uma obrigação de R 10 milhões em um problema de quase R 30 milhões.

A questão que fica é: até que ponto as disputas legais decorrentes de gestões passadas podem comprometer o futuro financeiro e esportivo de um grande clube? O caso Bruno Fuchs é um alerta contundente de que as dívidas de hoje são, muitas vezes, o resultado direto da arrogância contratual de ontem.

Fonte GE Inter


Receba as últimas notícias e novidades sobre o Internacional. Clique aqui para participar! Canal do Bar Colorado no WhatsApp

O CONTEÚDO NO TEXTO ACIMA REFLETE O PENSAMENTO DO ESCRITOR E NÃO DO BARCOLORADO!


Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem